quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

CUBA Si!


A curiosidade por Cuba sempre foi um caso a parte quando se tratava em conhecer um outro país. Depois que viemos morar em Montréal esse interesse só se multiplicou pelo fato de termos alguns amigos cubanos e conhecermos mais um pouco da situação do país.
Eu poderia dividir esse post em vários porque Cuba é um lugar especial, é necessário tempo e inspiração para tentar definir o que significa esse país.
Chegamos em Cuba no dia de natal, fomos pra Varadero, uma cidade turística. Ficamos num hotel all inclusive, compramos o pacote pelo redtag.ca, que é um site de ótimos descontos para quem quer viajar do Canadá. O hotel era 4 estrelas, o quarto era limpo, a comida legal (nada muito regado), mas nunca podemos esperar luxo em Cuba, isso é uma coisa rara por lá.
Como nosso objetivo não era esse e sim curtir a praia, o sol e mais sol, foi tudo ótimo.
É impressionante a gente sair do Canadá num frio de matar e com apenas 3 horas e meia de vôo chegarmos num calorzão, praias maravilhosas, gente feliz...bom demais!
No primeiro dia choveu um pouco, então ficamos tranquilos, no esquema come e dorme, coisa que não fazíamos há muito tempo. Mas como a nossa curiosidade não nos deixa em paz aproveitamos o dia chuvoso para conversarmos com alguns funcionários do hotel. Só que eles não podem conversar com turistas. Hoje é mais amena essa proibição no país, mesmo assim eles correm o risco de perder o emprego ou outro tipo de represália. No decorrer da conversa, os sentíamos tensos mas com muita vontade de contar o que eles passam desde 1959. Muitos deles nos disseram que só aguardam a morte de Fidel para que as mudanças comecem a acontecer. Raul Castro, o irmão de Fidel que "está no comando" tenta mudar mas Fidel não permite grandes mudanças. O que mais me chamou atenção foi a questão "comida", os cubanos falam do trabalho, o quanto recebem por mês, o quanto pagam pro governo, o quanto pagam de eletricidade que é muito cara pois esta é produzida pelo diesel, e como fazem pra comprar a comida com o pouco de dinheiro que sobra. É bem normal você ver pessoas pedindo roupa, comida muito antes de pedir dinheiro.
E aí não dá, né? Pra gente que ama sentir o clima real de cada país não dá pra ficar comendo e dormindo o dia todo. Como temos uma grande amiga cubana em Montréal, pegamos alguns contatos da família dela e amigos em Cuba para nos mostrar o lugar com uma pessoa local. Ai vem outra questão surreal (para nós), o telefone. Comunicação em Cuba não é tão fácil, do hotel não tem problema, cada ligação local custa 0.60CUC o minuto para celular (60 centavos de dólar), mas a pessoa que vai atender tem que ter crédito para que a ligação seja completada. Depois de muitas tentativas conseguimos falar com Carlito, um amigo da minha amiga que iria nos levar a Havana.
No hotel cada ligação custava 25 centavos de CUC para ligação local, 60 para celular, 3,30 para o Brasil por minuto. A internet custava 5CUC por 30 minutos e 10CUC a hora. Mas não é aconselhável, primeiro porque a internet é uma carroça, segundo que você usa o laptop do hotel, o computador é bloqueado, não se tem acesso a tudo. Não se esqueçam, estamos em Cuba!
Falando em moeda, em Cuba existem duas moedas: o peso cubano nacional, que é utilizado pelos cubanos e o peso cubano convertível (CUC) que é utilizado pelos turistas (1 CUC = 0,94 dólar canadense).
Ligamos para Carlito mas o seu carro estava "roto" (quebrado). Decidimos procurar um outro chauffer, foi então que conhecemos Alberto, um cubano super simpático com o seu carro verde de 1952. Quando eu vi o carro eu tive uma crise de risos, uma coisa de muito mal gosto, eu sei disso, mas gente, eu não consegui me controlar. E foi nele que no nosso terceiro dia de Cuba partimos para Havana. Alberto foi solícito toda a viagem, nos mostrou coisas que só os cubanos conhecem e nos contou muitas histórias, falava devagar todo o tempo para que a gente entedesse.


Havana fica a 150km de Varadero, na estrada tem um mirante que vale muito a pena parar, mirador de Bacunayagua, e tomar a melhor Piña Colada de Cuba eleita pelos cubanos.
Havana - que cidade fantástica!!! Logo que chegamos em Havana, Alberto deu uma volta de carro, nos levou até o cristo (pois eh, em Havana tem um cristo, não tão grande como o redentor, mas bonito também) e a casa de Che Guevara. O trânsito de Havana é uma onda, vários carros antigos, bicicletas e motos dividem o mesmo espaço. É super normal eles buzinarem entre eles o que faz uma zoada só. Depois disso Alberto nos deixou na rua Obispo (umas das mais conhecidas), de lá caminhamos até a Plaza Vieja, Plaza de la Catedral e Plaza de Armas, assim conhecemos um pouco da Havana Vieja. No meio da caminhada paramos pra tomar um delicioso Mojito em "La Bodeguita del Medio" (este lugar ficou conhecido por causa de Ernest Hemingway, um autor que amava Cuba). Escutamos um bom som cubano, conhecemos boas pessoas de outros lugares do mundo. Depois de alguns mojitos e boa música cubana fomos bater mais perna e conhecemos Barbarita, uma cubana simpática que nós levou para almoçar numa casa-restaurante num labirinto que só eles conhecem. Em Cuba é bem normal eles fazerem um restaurante na própria casa para ganhar um dinheirinho. E não é que confiar em Barbarita deu certo! Gente, que comida maravilhosa!!!! sinto até hoje o sabor daquela comida caseira na minha boca. Pedimos uma mariscada de camarão e lagosta que vinha acompanhado do arroz e feijão (tem coisa melhor???), tomamos cerveja, refri, gorjeta, mesmo assim pagamos apenas 20 CUC (surreal).


O tempero é bem parecido com o baiano, Cuba se parece muito com a Bahia, impressionante! Motivo: a escravidão no tempo da colonização. Nas nossas andanças encontramos acarajé, acreditem!!!, acarajé. Só não tem recheio mas a massa é a mesma. Eu me sentia na cidade baixa em Salvador, comendo um bom acarajé e falando com todo mundo que passava por perto como se eu conhecesse há anos. Realmente Cuba é muito especial!
Na compra do acarajé conhecemos um senhor bem velhinho, ele também estava comprando no momento em que tentávamos entender que ali não aceitava o CUC, somente a moeda local e foi então que o velhinho se propôs a pagar o nosso acarajé. Eu não acreditava naquela situação, mesmo com a falta de tanta coisa eles continuam solidários mesmo o motivo sendo a compra de um simples acarajé. Ele nos pagou o acarajé sem pensar em nada em troca mas nós o demos 5CUC que seria a troca de 1 pra 1 pra nós e pra ele o valor mensal da sua aposentadoria (provavelmente ou até mais), já que ele tinha gastado 4 pesos nacionais. Fazia muito tempo que eu não via uma pessoa tão feliz. Naquele momento nós ganhamos a viagem, valeu mesmo estar naquele lugar de tanta gente sofrida, que não tem o direito de escolha.


Depois disso fomos para o centro de Havana, visitamos o museu de la Revolución (muito interessante, mas a gente percebe que o museu inteiro é sobre Fidel e Che Guevara, ai eu me pergunto como esse povo deve estar de saco cheio disso tudo),caminhamos pela avenida Prado, visitamos o hotel Inglaterra, vimos o lindo e imponente Capitólio e paramos no Chinatown (em todo lugar tem um Chinatown). Neste ponto encontramos Alberto e fomos direto para a Plaza de la Revolución, é ali onde Fidel faz seu pronunciamento. Na verdade nem parece uma praça, é uma imensa avenida com um grande estacionamento que é fechada no dia do pronunciamento. Os cubanos devem estar todos presentes, muitos nos contaram que era feita uma chamada de presença no dia do pronunciamento e ai daquele que faltasse. Acabamos nosso dia em Havana com uma forte chuva, passamos por Malecon, a orla de lá, e pela avenida mais famosa de Cuba, Calle 13. Voltamos para Varadero debaixo de um toró, num carro de 1952 que entrava água da chuva nos nossos pés e o limpador do parabrisa malmente funcionava, que aventura!
Já era noite, por volta das 9, passamos em Matanzas, uma cidade de 160.000 habitantes para deixar as encomendas que levei para a família da minha amiga e seguimos para o hotel.


Tivemos um dia maravilhoso, quero muito voltar em Havana mas da próxima vez será para passar 1 mês.
No dia seguinte tentamos alugar uma mobilete para conhecer Varadero mas não tinha nenhuma disponível. O transporte é muito complicado, como quase tudo, infelizmente. É bem comum a gente ver muitas pessoas nas estradas pedindo carona. Por fim, pegamos o "tour bus" que é somente para os turistas e como podíamos descer e subir toda hora era perfeito. Conhecemos Varadero de uma ponta a outra, tem muita área verde e muito hotel, é um lugar para turistas e que gera muitos empregos. Paramos na Cueva Ambrosio, é uma gruta intacta, vale a pena conhecer. Passamos pelos mercados de artesanatos, fiquei impressionada com a grande quantidade de coisas de qualidade para vender, isso pra quem gosta de artesanato e tudo bem barato.
Nossos últimos dias passamos no hotel, aproveitamos muito o sol e voltamos pra Montréal com uma corzinha, tão bom!


A nossa viagem a Cuba foi maravilhosa, e o que levar de bom e ruim de Cuba? O bom desse país socialista é você sentir que mesmo em um país de pessoas sofridas, que muitas vezes não tem o que comer você se sente seguro. Aí muitos falam, claro que é seguro, tem câmeras por toda parte, não, não tem câmera por todas as partes, tem somente em Havana. O melhor de tudo é a forma como eles se tratam, todos são iguais mesmo, nenhum tem mais dinheiro do que o outro, então porque tratar um diferente do outro. Todos tem escolaridade, não existe nenhum cubano que não saiba ler. Outra coisa, a natureza é extremamente preservada, e os cubanos cuidam dela com muito amor.
O lado ruim é a pobreza, as pessoas não se dedicam ao trabalho (nunca podemos generalizar), mas se dedicar pra quê se o salário será sempre o mesmo?!? Ai vem a pior parte, como o salário é fixo para todo mundo, muda besteira de uma função a outra, as pessoas não tem como ganhar mais, e todos sonham em sair do país, e é por esse motivo que o governo proíbe a saída dos cubanos, se não nenhum cubano continuaria lá, com certeza. Quando eu comentei com um cubano que eu tinha algumas amigas cubanas aqui em Montréal ele me disse que tem cubano por toda parte no mundo, o que o cubano quer é simplesmente sair de lá.
Nós só temos que torcer para que a situação do país mude e que eles possam fazer as suas escolhas. Já imaginou você ser prisioneiro do seu próprio país? Só eles mesmo pra respoderem essa pergunta.
À bientôt, Roberta.